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Foto do escritorJazz Mansion

Viver é uma festa, e morrer também

Conheça a história do Jazz Funeral, cortejos que são mais que uma tradição religiosa em New Orleans e tornaram-se parte da cultura negra americana local


Foto: Reprodução/Cheryl Gerber

Para alguns de nós parece impossível associar festa e morte. O luto para os brasileiros chega a ser um tabu e é notoriamente algo que se vive sozinho, sem som, sem cor. Um funeral típico de jazz, em New Orleans (EUA) começa em uma igreja ou em uma casa funerária e segue ao cemitério. Os familiares, amigos e conhecidos do falecido (a) são acompanhados por uma banda de metais, que toca música pesadas e tristes no cortejo, mas logo, após o enterro, elas se tornam comemorativas.


Embora a maioria dos funerais de jazz seja para músicos, qualquer pessoa pode solicitar um. E, desde que você seja respeitoso, os transeuntes são incentivados a participar e ajudar a comemorar. Cada funeral de jazz começa com uma direção respeitosa e termina com uma dança catártica, é tradição. Contam que quem não toca um instrumento, acompanha a marcha cantando e agitando um lenço no ar enquanto dança.



Eileen Southern, em seu livro The Music of Black American, descreve a cerimônia como: “No caminho para o cemitério, é costume tocar devagar e com tristeza uma melodia, ou algo como 'Nearer My God to The', mas ao voltar do cemitério, a banda tocava um estimulante, 'When the Saints Go Marching In', ou uma música ragtime como 'Didn't He Ramble'.


"A música aqui faz tanto parte da morte quanto da vida", Sidney Bechet, renomado jazzista.

Não sei vocês, mas já quero encomendar um desses pra mim, vou deixar no testamento o pedido e algumas músicas certas. E vou pedir que evitem ‘Encontros e Despedidas’, do Milton Nascimento, pois não quero mandar notícias do mundo de lá. Quero ir que nem o povo de New Orleans: feliz porque vivi, sorri, amei e aproveitei até os últimos minutos antes de partir.


Fotos: Mario Tama/Getty Images, Sean Gardner/Getty Images e Artsneworleans.org



Para saber mais:


  • A ‘Second Line Parade’, festa tradicional de New Orleans, têm origem nos jazz funerals e nas tradições do povo afro-americano. O pesquisador Juliano Domingues, da Fulbright na Tulane University (EUA), e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), fez um ensaio visual e uma super matéria contando mais sobre a origem dessa celebração, a convite da Revista Continente. Leia mais em: Uma Celebração à Liberdade.


  • O músico Wynton Marsalis, junto com amigos e membros do Jazz at Lincoln Center, realizaram o #MemorialForUsAll, em lembrança a todos que os partiram durante a pandemia do novo coronavírus. A ideia foi reproduzir uma marcha funeral tradicional de New Orleans, mesmo a distância e o resultado você pode ver em: #MemorialForUsAll - Wynton Marsalis.


  • O jornalista e crítico musical, Carlos Calado, escreveu uma crônica especial para o jornal Folha de São Paulo, chamada: Uma cidade capaz de dançar no seu enterro, que conta a sua visão de como foi participar de jazz funeral e fala também sobre a tradição musical da cidade de New Orleans.



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